quinta-feira, 8 de junho de 2017

O mito da Idade das Trevas



A Idade Média foi o Período das Trevas, da escuridão:
Renascentistas cunharam, Iluministas adotaram.
Nascia ali uma torpe, mentirosa e vil afirmação,
propagada até hoje pelos tolos que nisto acreditaram.


A Igreja Católica freou todos os avanços na Idade Média:
Protestantes cravaram, Iluministas e ateus acreditaram.
Entretanto, nenhum deles é capaz de provar em suas enciclopédias
as mentiras, calúnias e farsas que, à revelia, lançam e lançaram.


Teriam eles aprendido ou acreditado em uma história diferente?
Seriam eles apenas replicadores de conspirações iluministas?
Ora, meus caros mitomaníacos, não é preciso ser muito inteligente
para demonstrar o quanto são falaciosos seus argumentos vigaristas.


Somente os preguiçosos mentais acreditam nesta grande besteira,
afinal, não é preciso ser sábio, gênio, polímata ou historiador
para comprovar que o mito da Idade das Trevas não passa de asneira.
e que só os ignorantes e mentirosos contemplam tal mentira com ardor.


Pior são aqueles que endeusam o Iluminismo ou outra corrente similar,
como se estas fossem os maiores atestados de uma mentalidade sã,
outros chegam ao cúmulo de, sua importância, querer equiparar
com Direito romano, Filosofia grega e Moral judaico-cristã.


Obviamente o Período Iluminista deixou algum positivo legado,
seria até desonesto afirmar que isso é uma mentira.
Mas, mentira maior e que muitos têm acreditado e até divulgado
é afirmar que durante a Idade Média o avanço diminuíra.


Não é preciso pedir provas a eles de suas mentiras conspiratórias,
nem é necessário debater para provar que estão enganados,
simplesmente convide-os para estudar a verdadeira história
e, se forem um pouco inteligentes, admitirão o quanto estão errados.



Felizmente, graças ao trabalho de alguns poucos historiadores,
como Jacques Le Goff, Regine Pernoud - que não sombreavam a verdade,
caem os mitos, caem as farsas, são desmascarados os impostores
e a Idade das Trevas vai desaparecendo à luz de uma nova realidade.


As invenções dos tais humanistas do Período do Renascimento
ganharam vida nas alcunhas de seu vasto e seletivo leque:
protestantes, iluministas, ateus e toda espécie de movimento
que tenham como intenção colocar a Igreja Católica em xeque.


Desonestamente, citam, coléricos, Cruzadas e Inquisições,
simplesmente espalhando notícias sem checar se são reais.
Reproduzem as mentiras, falácias, farsas e conspirações
movidos, sobretudo, pela rejeição e pelo ódio anticlericais.


Mais desonestamente ainda, fecham os olhos para as consequências
que muitas ideias iluministas e secularistas acarretaram no campo moral.
Quantas revoluções, quantas guerras, quantas mortes e quanta violência
não foram consumadas após a adoção desta suposta cosmovisão racional?


Sim, sabemos perfeitamente sobre os erros atribuídos à Santa Igreja,
afinal, tanto protestantes, quanto ateus não nos deixam esquecer.
Mas, assumir seus erros, culpas, crimes e mortes, ora veja,
é coisa que não vemos nenhum pró-iluminista ou ateu fazer!


Sempre procurando se esquivar daquilo que a história atesta,
os lunáticos inventam argumentos e tentam enganar a si próprios.
Todavia, abraçados a mitos e mentiras sobre a tal Idade das Trevas
nem parecem céticos dada à parcialidade de seus 'iluminados' olhos.


Os mitos da Idade Média e da Igreja continuarão a existir,
pois sempre existirão pessoas de má fé e as que se apegam às tolices.
Porém, não há nada neste mundo que seja capaz de extinguir
a força da verdade, destruidora de toda e qualquer charlatanice.


Se a Idade Média resume-se a um período de trevas e obscurantismo,
e se a Igreja Católica freou radicalmente o avanço e o progresso,
como explicar as grandes invenções e o crescimento científico
estimuladas justamente pela Igreja neste período pregresso?


As primeiras universidades surgiram no período medieval,
e foram difundidas a mando da Igreja Católica Romana.
Não seria, portanto, uma afirmação, no mínimo, irracional
acusar a Igreja com tantas conspirações e mentiras insanas?



Talheres, roupas íntimas, pólvora, armas de fogo, astrolábio,
desenvolvimento de técnicas de agricultura e navegação;
tantos gênios, pensadores, astrônomos, matemáticos e sábios
tornam o termo 'Idade das Trevas' uma obsoleta e obtusa contradição.


A menos que mudem o significado das palavras trevas e escuridão
ou que apaguem todos os tantos antigos registros históricos,
a sua mentirosa campanha de calúnia, injúria e difamação
só vai convencer os que se deixam enganar por qualquer falsa retórica.


Se os iluministas que tanto se proclamaram os donos da razão
despertassem hoje e vissem o que parte de suas ideias causaram,
certamente os mesmos teriam repúdio, asco, rejeição e aversão
aos conceitos sociais e morais que do Iluminismo resultaram.




Renato Oliveira              07 de junho de 2017













"O ódio fanático pela religião e pelas tradições filosóficas clássicas do ocidente se coadunam perfeitamente com o culto imbecilizante da classe acadêmica, científica ou burocrática. Na verdade, esses grupos foram elevados a um novo clero pela sacrossanta ideologia iluminista. O positivismo filosófico, travestido de "verdadeira ciência", virou uma nova "revelação divina" de nossos tempos. Uma "revelação", por assim dizer, idiotizante, que reduz a dimensão humana apenas aos caracteres puramente fisiológicos, negando as qualidades existenciais, espirituais, éticas e morais do ser humano. Quando se pergunta a um materialista o que é o amor, ele dirá que é apenas um fenômeno físico e material. Resta saber como o idiota provará algo que não tocamos, vemos, presenciamos fisicamente, mas apenas acreditamos sentir ou intuir.

Essa falsa doutrina, que diz libertar o homem da opressão da religião cristã, na prática, acaba por escravizá-lo. Os homenzinhos "iluministas" sonham com uma sociedade controlada pelo Estado, pela burocracia tecnocrática ou inspirada por ideais "científicos". O socialismo e todos os tipos de totalitarismo têm nesta forma de pensar uma grande inspiração."
 
Leonardo Bruno
(Conde Loppeux de la Villanueva)








O  PROGRESSO  TÉCNICO  NA  IDADE  MÉDIA


 Em geral,  os historiadores mostram grande má vontade para com o período medieval:  Teria sido uma época de superstição e atraso,  estagnação e crueldade.  É uma visão certamente preconceituosa,  causada pelo ódio à influência exercida naquela época pela Igreja Católica tradicional,  de cujo espírito estavam impregnadas,  em maior ou menor grau,  todas as instituições.

Todavia,  a Idade Média foi época de muitos inventos,  grandes e pequenos,  de cuja origem às vezes não se suspeita.  Vejamos,  por exemplo,  o setor de transportes.

Com o desenvolvimento dos mastros,  a junção da vela latina e da vela quadrada,  a multiplicação dos remadores nas galeras,  o reforço do casco por meio de um esporão robusto,  obtiveram-se melhores condições de  navegabilidade. (Perroy, 1957 : 177).  Contudo,  maior progresso alcançou-se no século XIII,  ao generalizar-se o leme de cadaste,  que veio substituir o  pesado remo situado na popa do navio,  permitindo uma direção mais segura de embarcações muito maiores.  (Wolff, 1988: 146;  Heers, 1968 : 255).  “Devido à pressão exercida pela vela de proa sobre o leme,  tornou-se necessário um certo contrapeso mais a ré.  Isso levou ao acréscimo de um terceiro mastro na popa conhecido como mastro de mezena. A primeira ilustração datada de uma carraca de três mastros é de 1466. No final da Idade Média algumas dessas embarcações tinham 60 metros de comprimento com uma boca de 15 metros e uma capacidade de cerca de 1.400 toneladas.” (Hodgett,  1975 : 131)  A invenção do leme  (desconhecido na civilização greco-romana) e da bússola provocaram o ciclo das descobertas dos séculos XV e XVI.  (Fonseca, 1958 : 273-274).  É quando aparecem as primeiras cartas marítimas (Giordani, 1993 : 324),  invenções que,  associadas ao astrolábio, permitiram a navegação em alto-mar.  (Vianna, 1962 : 620).  Atribui-se ao Papa Silvestre II a invenção,  ou talvez a introdução,  a partir do mundo islâmico,  do astrolábio “para medir  a altura dos astros sobre o horizonte,  da esfera sólida destinada a estudar os movimentos ce-lestes e do primeiro relógio mecânico acionado por pesos.  As conseqüências foram incalculáveis.” (Puiggrós,   1965 : 173). O astrolábio,  de início ainda rudimentar,  aperfeiçoou-se pouco a pouco:  Presença dos azimutes,  aparecimento do ostensor,  exatidão na graduação da eclíptica.  (Beaujouan,   1959 : 130).  Em 1434,  surge a caravela em Valença.   (Wolff,  1988 : 237).  Nos Países Baixos,  apareceu  a eclusa;  constituída por uma câmara com portas em cada extremidade,  possibilitava a passagem da embarcação de um nível de água para outro. Canais e eclusas surgiram em Flandres e  na Holanda já no século XII.  (Hodgett, 1975 : 132).

No século XI,  os europeus começaram a usar ferraduras nos animais;  isto lhes aumenta a vida útil e,  com a  utilização da carreta de quatro rodas,  possibilita um distanciamento maior  entre a aldeia e os campos.  (Silva,  1986 : 47).  “Do século X ao século XII,  generaliza-se no Ocidente o moderno atrelamento dos animais,  a coelheira dura,  os tirantes,  a disposição em fila e a ferragem com pregos:  desde então os cavalos podem tirar com toda a sua força e peso,  em vez de erguerem a cabeça,  semi-estrangulados,  como ‘os altivos corcéis’ da Antiguidade.  (...) o jogo dianteiro móvel data do século XIV e permitirá a tração das peças de artilharia recém-inventadas.” (Beujouan, 1959 : 143). A adoção generalizada da coelheira possibilitou o atrelamento aos arados de cavalos  em lugar de bois,  uma mudança que ocorreu por volta de 1200.  Os bois também passaram a ser utilizados com maior eficiência através da invenção da canga frontal, pois esta deu-lhes mais força de tração que a anterior,  presa nos chifres. (Hodgett, 1975 : 220).  Surge um pequeno objeto,  na aparência evidente — mas totalmente desconhecido na Antiguidade:  o estribo, graças ao qual o cavaleiro podia empunhar a sua arma com muito mais força e confiança.  (Trevor-Roper,  1966: 102-104).

A pavimentação das estradas,  mais fácil e  mais econômica,  substitui  com vantagem o lajeamento das vias romanas.  O São Gotardo,  por tanto tempo intransponível,  transformou-se em via de trânsito,  através da primeira ponte pênsil de que se tem conhecimento,  datada provavelmente do início do século XIII.  (Pirenne, 1982 : 39).   Por outro lado, o  túnel de estrada mais antigo,  o do Monte Viso,  com de cerca de cem metros,  foi  construído entre 1478 e 1480,  com a finalidade de facilitar o transporte do sal da Provença. (Wolff, 1988 : 144).  Foi inventado também esse aparelho extraordinário,  o carrinho de mão,  que permite a um homem realizar o trabalho de dois. (Fremantle,  1970 : 125;  Vianna, 1962 : 621)

Nas cidades, a calçada destinada aos pedestres introduziu-se a partir de 1185  em Paris,  1235, em Florença,  1310, em Lübeck. (Mumford, 1965 : 401).  As ruas largas não eram necessárias,  “pois havia pouco tráfego sobre rodas,  e nenhum exigia trânsito rápido.”  (Hodgett, 1975 : 71).  São  também criações medievais a chaminé doméstica, a vela e o círio.   (Vianna, 1962 : 621)

A partir do século X, os cursos d’água são regulados,  cortados por desvios,  barragens e quedas destinadas a movimentar moinhos de cereais e lagares.  A roda d’água  era tão utilizada que na Inglaterra de Guilherme o Conquistador  (século XI)  contavam-se cinco mil.  Foi usada em toda a parte,  para bombear água,  serrar madeira,  pulverizar o pigmento das tintas e o malte da cerveja,  acionar máquinas, triturar minérios,  forjar ferro,  espichar arames...  Com ela,  a escavação  das minas ultrapassou em muito os 800 metros de profundidade.  (Puiggrós,  1965 : 179;  Hodgett, 1975: 28).  Aprimoraram-se as engrenagens e  outros dispositivos mecânicos. Surge o fole com placas e válvulas.  “No fim da Idade Média,  o alto-forno possibilitou a fabricação do ferro fundido.  Essa foi a invenção mais importante da indústria metalúrgica.  O bronze, uma liga de cobre e estanho,  com um ponto de fusão mais baixo que o ferro,  era fundido desde os começos do século XII e utilizado na fabricação de sinos e estátuas.” (Hodgett,  1975 : 189). “A fabricação de um sino exigia técnica especial para que o mesmo produzisse um som adequado.  O fundidor deveria,  antes de iniciar o trabalho,  calcular o tamanho do sino e as proporções exatas.” (Giordani, 1993 :  159).

A partir do século XII,  explorou-se outra fonte de energia: o vento.  Os moinhos de vento são mencionadas em Arles pela primeira vez entre 1162 e 1180.  (Hodgett, 1975 : 222).  No século XIII, já se comprova a existência de moinhos de maré na foz do Adour,  perto de Bayonne. (Giordani, 1993 : 158).

O primeiro poço artesiano conhecido foi perfurado  em 1126.  Entre as inovações medievais,  aparecem também a sericultura (introduzida na Sicília por volta de 1130),  a falcoaria,  o arenque defumado e a  “champanhização” do vinho branco. (Beaujouan, 1959 : 144).

Na indústria doméstica,  a roca substitui o fuso para enrolar a estriga. E a partir de 1280,  “a roda de fiar  ( provavelmente uma das grandes invenções da indústria têxtil)  compete com a roca e o fuso,  os quais possibilitaram às mulheres trabalhar enquanto supervisionavam outras atividades. No século XIV,  o linho é pela primeira vez empregado na confecção de roupas brancas,  em oposição aos grosseiros panos de lã até então usados, o que acarreta uma melhoria na higiene e o retrocesso da lepra;  fornece também matéria-prima barata para a indústria papeleira trazida da China no século XIII. (Beaujouan, 1959 : 144;  Hodgett, 1975 :161).  A introdução do tear horizontal de pedal provavelmente triplicou a produtividade dos lanifícios.  (Anderson,  1982 : 215).  Em fins do século XII,  surge um invento no processo de tecelagem da lã:  O pisão,  que substituiu a pisagem de pés humanos pela batida de martelo sobre o tecido.  Um tambor giratório,  preso ao eixo de uma roda d’água,  acionava os martelos.  Outra invenção foi a máquina cardadora,  constituída por um conjunto de rolos com cardas,  movimentado também pela força hidráulica. (Hodgett,  1975 : 160, 177).  O moinho mecânico de dobar a seda parece ter surgido na Itália no fim do século XIII. (Wolff, 1988 : 100).  Além disso,  foram inventados o botão e a camisa.

O álcool aparece em Salerno por volta de 1110 e sua fabricação melhora rapidamente, com o  emprego de desidratantes,  como o carbonato de potassa. Além disso, a técnica da destilação aperfeiçoa-se,  empregando-se  o alambique clássico cujo escoadouro tubular,  em forma de  serpentina,  mergulha numa cuba para a circulação da água. (Beaujouan, 1959 : 144-145).   Em Toulouse,  fabrica-se aguardente no começo do século XV,  “o último grande século do comércio de vinho.  Concorrentes vão aparecer e desenvolver-se:  em primeiro lugar a cerveja,  que se aprende a fabricar melhor na Alemanha no século XIV, com a utilização do lúpulo.”   (Wolff,  1988 :  89).

Alberto Magno (1183-1280) conseguiu preparar  a potassa cáustica.  Foi o primeiro a descrever a composição química do cinabre,  do alvaiade e do mínio.    Raimundo Lúlio (1235-1315) preparou o bicarbonato de potássio.    Teofrasto Paracelso (1493-1541) descreveu o zinco,  desconhecido até então.  Introduziu igualmente na medicina o uso dos compostos químicos.

Os óculos para corrigir a miopia aparecem por volta de 1285;  primeiro,  de cristal de rocha, depois de vidro.  Nos séculos seguintes,  outros artesãos iriam melhorar as lentes, de onde resultariam o telescópio e o microscópio.  (Fremantle, 1970 : 149).

Os relógios mecânicos de peso difundem-se no fim do século XIII.   No século XV  surgem os relógios de areia,  ou ampulhetas. (Wihthrow, 1993 : 119)

O estilo gótico,  na arquitetura,  surge como um progresso essencialmente técnico,  que consistia numa diminuição das pressões exercidas pelas abóbadas,  as quais podiam elevar-se pelo afilamento das flechas e o equilíbrio dos arcobotantes leves  (filhos da ciência dos números, inventados em Paris em 1180 para erguer mais alto a nave de Notre-Dame)  e colunas com coruchéus.  As abóbadas atingem alturas cada vez maiores:  32 metros em Paris,  37 em Chartres ,  42 em Amiens,  48 em Beauvais!  Acessoriamente,  a abóbada melhorava os valores acústicos dum edifício destinado à execução do canto coral.  Por sua vez,  o adelgaçamento das paredes fez desabrochar a técnica do vitral,  cujo emprego fora até então limitado pela estreiteza das aberturas românicas;   os vãos puderam alargar-se,  havendo  mais espaço para as janelas e, assim,  as igrejas tornam-se mais iluminadas. No período que vai de 1170 a 1270 construíram-se na França mais de 500 grandes igrejas góticas.   (Fremantle, 1970 : 127;  Duby, 1979 : 121, 281;  Perroy, 1957 : 166-167) .  Aliás,  a herança mais duradoura da Idade Média é sua arquitetura.  Os castelos são em sua maioria ruínas impressionantes;  as catedrais continuam de pé,  desafiando os séculos. (Ferguson, 1970 : 220).

No domínio das obras públicas,  mencionam-se  as pontes com arcos em segmento,  as comportas e  as dragas.  (Beaujouan, 1959 : 145-146)

A contabilidade ganha em clareza com a adoção do método veneziano das duas colunas,  frente a frente  (crédito e débito);  mas  sua transformação mais importante consistiu nas partidas dobradas que,  provavelmente,  surgiram simultaneamente em várias cidades italianas entre 1250 e 1350.  Elas não precisarão sofrer,  até o fim do século XIX,  senão pequenas alterações de detalhe.   A letra de câmbio aparece no século XIII.  (Wolff : 1988 : 126).   Os cambistas examinavam e pesavam as moedas;  do “banco”  onde eles realizavam essa operação surgiu a instituição bancária, e as variadas práticas financeiras nasceram desse serviço primitivo de câmbio de dinheiro. (Fremantle, 1970 : 74).   O seguro marítimo está presente em documentos genoveses  desde o século XII. (Pirenne,  1982 : 124).

As feiras,  existentes desde o século XI,  eram centros de intercâmbio em grande escala ,  que se esforçavam em reunir  o maior número possível de homens e produtos. (Pirenne, 1982 : 102).

Foram fundadas no século XIII, algumas organizações postais privadas.  Em 1357,  dezessete companhias florentinas fundaram a ‘Scarsella dei Mercanti Fiorentini’ que mantinha,  toda semana,  um correio comum e nos dois sentidos com Avignon.  Foi a primeira companhia postal conhecida,  cujos estatutos foram conservados. (Wolff, 1988 : 156).

“Em 1305,  para uniformizar as medidas em certos negócios,  o rei Eduardo I,  da Inglaterra, decretou que fosse considerada como uma polegada a medida de três grãos secos de cevada,  colocados lado a lado. Os sapateiros ingleses gostaram da ideia e passaram a fabricar,  pela primeira vez na Europa,  sapatos em tamanho padrão,  baseados no grão de cevada.” (Superinteressante,  São Paulo,  2 : 13, fev. 1988).

A obra medieval de Beda contém a primeira investigação científica das marés,  envolvendo o mais antigo estudo sobre  o intervalo médio entre o momento da maré cheia e o do trânsito anterior do meridiano pela lua. (Whithrow, 1993 : 90).

“A primitiva lavoura utilizava,  no Médio Oriente e no Mediterrâneo,  o sistema da ‘sulcagem’:  um espigão,  com a ponta virada para baixo,  puxado por uma junta de bois,  primeiro numa direção,  depois transversalmente,  arroteava um lote quadrado de terra.  Este método era suficiente para os terrenos leves e secos.  Mas, nos solos húmidos e pesados do norte da Europa,  esse tipo de arado era inadequado,  exceto nos outeiros bem drenados.  Por conseguinte,  a agricultura foi,  a princípio,  praticada apenas em zonas muito limitadas.  Na Idade Média,  começou a generalizar-se,  gradualmente,  pelo Norte da Europa,  um novo tipo de arado.  Tratava-se de um arado pesado com lâmina e relha para fender o solo e uma aiveca para voltar os torrões  para os lados e abrir um sulco,  drenando desse modo o terreno,  ao mesmo tempo que o lavrava.”  (TrevorRoper, 1966 : 121-122;  Heers, 1968 : 121). Começa-se a utilizar a grade; revolvido mais amplamente,  melhor arejado,  o solo absorve melhor a marga, uma argila que contém carbonato de cálcio e,  quando misturada à camada superior do solo,  mostra-se um fertilizante valioso. (Perroy, 1957 : 23-24).  A irrigação (de pastos e terras de lavoura) começou a ser empregada em larga escala e a Itália provavelmente abriu o caminho. Na Idade Média,  outra invenção,  o mangual,  que substituiu a vara de bater,  aperfeiçoa o processo de debulha. (Hodgett, 1975 : 29, 221;  Mumford, 1965 : 337).

Nesse período,  além das plantas cultivadas nos tempos clássicos,  foram aprimorados:  A espelta,   o centeio,  a aveia e o fagópiro.  Além do sorgo,  outras culturas foram introduzidas na região mediterrânea,  pelos gregos ou árabes:  Arroz,  cana-de-açúcar,  algodão e amoreira.   (Hodgett,  1975: 30,  225).  O pousio trienal e,  a partir do século VIII,  o sistema de três plantações alternadas,  permitem a aclimatação de novas culturas e aumentam acentuadamente a produção agrícola.

Seria o mundo medieval um inferno de misérias?  Descobre-se o contrário a partir de um levantamento referente à cidade de Toulouse,  onde,   em 1322, havia 177 açougueiros,  ou  seja,  um para cada 226 habitantes,  “para uma população máxima de 40.000 almas — cerca de duas ou três vezes mais que hoje;  e alguns figuravam entre os comerciantes mais ricos da cidade.”  (Wolff, 1988 : 82-83).  A conserva do arenque no sal foi descoberta em 14l6,  por Willem Beeckelz.  (Fonseca, 1958 : 314).  “Apareceram as boas maneiras,  a ‘etiqueta’,  a faca passou a ser um componente da mesa,  assim como o garfo,  que acabou se tornando um utensílio doméstico após a peste negra  (1348-1349).”    (Villa, 1998 : 10).

“Já em 1159,  os primeiros pôlderes,  porções de terra tomadas aos alagadiços ou ao mar por meio de diques,  foram criados em Flandres.” (Mumford, 1965 : 336).  A maior parte dos diques holandeses foi construída entre os anos de 1250 e 1350.  Em 1408,  aparece o primeiro exemplo conhecido de moinho de vento para  bombear a água dos pôlderes.

Depois da manivela  — descoberta de importância fundamental — ocorreu  a invenção alemã da  biela,  peça rígida com duas articulações para transformar o movimento rotativo em alternativo. Começaram a utilizar-se ferramentas, como a plaina, e passou-se a usar o carvão como combustível. Diversas invenções,  como a cola e o papel,  foram transmitidas pela China à Europa.  (Whithrow,  1993 : 102, 109).  A tinta romana para escrever,  feita do negro da fumaça com goma e água,  não tinha fixadores;  era uma tinta moída;  ao passo que a utilizada  na Idade Média se fazia por infusão,  com goma,  pedra-ume e resina de carvalho.  (Spina, 1977 : 30-31).

Vê-se,  portanto,  que a Idade Média,  ao contrário do que muitos imaginam,  foi extremamente fecunda em avanços técnicos.


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Bibliografia:

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fonte: Lepanto 
(http://www.lepanto.com.br/historia/o-progresso-tecnico-na-idade-media/)








"Um dos traços constitutivos da mentalidade revolucionária é a compulsão irresistível de tomar um futuro hipotético – supostamente desejável – como premissa categórica para a explicação do presente e do passado. Nessa perspectiva, a história humana é vista como um trajeto linear – embora entrecortado de abomináveis resistências – em direção ao advento de um estado de coisas no qual o curso total dos acontecimentos encontrará sua consumação e sua razão de ser.
Mais cômica ainda, ou tragicômica, torna-se essa inversão quando, à maneira iluminista, o futuro esperado é descrito como o triunfo da racionalidade científica sobre o obscurantismo das crenças bárbaras. Pois a concepção futurocêntrica da História, virando de cabeça para baixo a hierarquia do necessário e do contingente já traz em seu bojo a destruição completa da lógica, do método científico e de toda possibilidade de compreensão racional da realidade."


(Olavo de Carvalho)


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